Pela primeira vez, em muitos meses, sinto-me excitada com o futuro. Ontem passei o dia com um sorriso parvo na cara e apeteceu-me abraçar todos os meus amigos e familiares, os mesmos que me têm levado ao colo durante todo este tempo, umas vezes com mais ou menos paciência. Senti-los agora felizes por me sentirem entusiasmada com alguma coisa é muito reconfortante.
E, sinal de que a limpeza pode estar a processar efeitos positivos em mim, foi o facto de muitas das contrariedades de ontem não me terem atirado ao chão como de costume. E juro que não foram coisinhas fáceis. Algumas até bem chatas. Mas, o facto é que relativizei tudo, como tenho insistido comigo em fazer. Relativizar!
Ontem, no meio da minha insónia forçada, perto das 3 da manhã, na tv vi uma entrevista da Ana Sousa Dias a um filósofo catalão. Apanhei a coisa no fim, mas fixei uma das respostas que ele deu. Falavam da morte e da sua importância para a humanidade. E ele dizia que a morte é a única coisa que nos faz pensar. Se fosse certa a eternidade não tínhamos medo de perder pessoas, capacidades, tempo, etc. Ninguém ama o eterno, ama aquilo que pode perder. E é essa condicionante que muda tudo. Mesmo quando acreditamos na vida eterna, não acreditamos nela por si, mas porque será a possibilidade de viver eternamente com aqueles que amámos e já perdemos.
Por isso, tenho de relativizar as coisas, o dia a dia, o trânsito, a rotina, a repreensão, o sentimento de culpa, a falta de amor ou o excesso dele, as noites mal dormidas, os contratempos, as zangas e discussões, os comportamentos inadequados... pensar no que me faz falta e lutar por isso e fazer com que quando perder as pessoas que amo ter a certeza de quem dei o meu melhor para que fossem felizes.