terça-feira, setembro 19, 2006

A denúncia

Tive hoje um acordar no mínimo sórdido. Antes de abrir os olhos e perceber o que se passava já os gritos me entravam pela cabeça. Os vizinhos de baixo insultavam-se mutuamente, ele batia-lhe, ela arremessava-lhe coisas... Ela está grávida, existe uma criança naquela casa de 5 anos de idade (que nunca se ouviu em momento algum), ele é um bisonte, deve ter mais de 2 metros de altura e já antes tinhamos chamado a polícia àquela mesma casa porque ele batia na avó.
Desta vez encolhi-me, agarrei-me à minha filha e quis que ficassemos ali para sempre, no escuro, na cama, a salvo de todos os horrores do mundo, sem sofrer, sem fazer sofrer. Por momentos, quis não ter filhos, não quis que eles alguma vez passassem por uma situação semelhante, que alguma vez fossem a vitima, que alguma vez fossem a besta.
E paralizei. Não chamei a polícia no meio da indignação. Pensei que essa tomada de posição deveria ser tomada pela mulher que depois de ela própria se ter indignado, saiu para a rua, com o filho ao colo e ao lado do agressor.
O que vale um casamento? O que vale o pai dos nossos filhos? Qual é o preço de manter uma família? Que sentido faz tudo isto? Onde é que fica o amor próprio no meio da submissão? Em que medida devemos ceder sem pisar o risco da repressão?

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