terça-feira, abril 25, 2006

Somos Livres

Das poucas coisas que a minha má memória guarda da Revolução é a canção da Gaivota que gritava a plenos pulmões naquela altura em que ainda poucas palavras sabia dizer. Mas a verdade é que hoje, longe das festevidades do dia, como sempre foi meu apanágio, aliás, pensei nessas mesmas palavras. "Como ela somos livres de dizer..." e hoje quis viver um "como ela" somos livres de amar! E revivi inevitavelmente os meus últimos tempos. Revivi o que há menos tempo quis viver como uma revolução. O que há pouquíssimo tempo admiti ser uma revolução por amor! A luta que travei e que ainda travo dentro de mim para que essa revolução chegasse a bom porto e que no final também eu pudesse colocar o cravo no cano da espingarda e pudesse gritar que amava sem reservas. Não fui capaz! Ganhou quem viu tudo isto como uma ruptura. Ganhou quem em vez da revolução quis a destruição. Ainda hoje vivo a revolta desses dias. Ainda hoje me pergunto o porquê de tudo isto, o porquê de não conseguirmos ter vivido isto juntos, como um crescimento conjunto, a dois. Não conseguimos. Ganhou quem preferiu virar as costas e deitar tudo a perder. Revolta-me que tenhamos sido tão levianos. Revolta-me que um projecto de vida tenha se resumido a nada em poucos dias. Revolta-me que de tudo muito pouco tenha sobrado, tão pouco o respeito por quem ainda tinha uma réstea de esperança, uma réstea de amor para dar, sem reservas. Ainda hoje, sinto o sabor salgado na boca das lágrimas que nela vão desaguar. Liberdade!? Que liberdade é esta que contenho dentro de mim para não voltar a gritar o que tenho guardado? Que liberdade é esta que um dia alcancei para dizer tudo o que sentia e hoje sou obrigada a esconder? Revolta-me pensar que um dia os meus filhos se possam sentir como eu me sinto agora. Abandonados por alguém a quem um dia pensaram dar a vida. Apavora-me pensar que um dia possa provocar esse sentimento a alguém, muito menos a eles! Procuro agora outra revolução! A minha, interior. A de me encontrar novamente no meio de uma vida que deixou de fazer sentido de um momento para o outro. A de me sentir capaz dentro deste sentimento de fracasso. A de me sentir especial por tudo o que ainda tenho ao meu redor. E essa revolução é a minha! Só eu a posso viver. Talvez daqui a um ano, a consiga definir. Hoje é ainda só um projecto de vida que procuro viver num dia após o outro. sem futuro, sem esperar nada nem ninguém.

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