terça-feira, agosto 29, 2006

Olho mais uma vez para trás e dou comigo a identificar os momentos em que não precisava de me refugiar em nada para me sentir em casa. Os momentos em que não havia fuga, em que a minha casa era o meu refúgio. Senti-me assim quando o meu irmão mais velho saiu de casa dos meus pais e consegui ter reservado um quarto da casa só para mim. Esse passou a ser o meu refúgio, o sítio onde eu podia ser eu própria sem reservas, onde passava a maior parte do meu tempo, onde recebia os meus amigos, onde guardava as minhas coisas, ouvia os meus discos, lia os meus livros, escolhia os programas de tv. Ali diverti-me à grande, chorei à séria, tive longas e profundas conversas com os meus irmãos e com amigos, namorei, viagei, estudei, fiz sonhos e desfi-los. Curiosamente, este é o quarto onde escrevo agora. No mesmo em que me sinto tão atrofiada e fora de água.
A primeira vez que mudei de casa, para viver aqui ao lado, transferi todo esse poder do "meu quarto" para a "minha casa". Também ali podia ser eu própria. Recordo os discos que tocavam de manhã antes de ir para o banho, da luz do sol a entrar de madrugada, quando chegava a casa, dos telefonemas que recebia e fazia durante a noite, das festas de caixão à cova, de arte de receber as pessoas, do meu casamento e dos projectos que ali se fizeram.
Estou prestes a mudar para a minha terceira casa depois desta. E se as outras duas tiveram o condão de me fazer sentir "em casa", ainda não consegui ter o mesmo sentimento por esta nova. Talvez porque no fundo não a quisesse ter comprado, talvez porque vivo a expectativa de daqui a bocado estar a mudar de casa outra vez.

Acho que as casas são mais que 4 paredes. São os sonhos que projectamos nelas, fazem parte do nosso projecto de vida. Preciso de um!

6 comentários:

Anónimo disse...

Também eu me sinto sem refúgio, sem casa, apesar de ter uma só para mim...talvez porque desta vez não foi nem sonhada nem projectada, foi apenas a necessidade de um espaço onde dormir, talvez porque simbolizou o fim de uma etapa, de um projecto desejado, de um sonho vivido... Mas há muito que não me sinto em casa, talvez porque a casa que preciso esteja dentro de mim e eu não a consigo encontrar...

amelinha disse...

podíamos ir vviver juntas :)

Someone happy! disse...

Dá tempo ao tempo, melhores dias vão chegar.
Beijokas!!!

Anónimo disse...

podiamos dizer que assim realizavamos um sonho de infância :)

amelinha disse...

era a loucura

amelinha disse...

Acho que vivemos aterrorizados pela saudade do passado. Temos tudo nas mãos para continuarmos a fazer o que nos apetece e ser de vez em quando crianças, voltar a ter sonhos pode estar a um passo, numa decisão. É preciso ter coragem!