segunda-feira, fevereiro 06, 2006

Ainda a saudade


Ainda sobre a saudade que os outros deixam quando partem, a saudade que dói quando a partida se vê definitiva e as voltas que a vida dá... Lá no trabalho, há duas pessoas que me são próximas, uma das quais de quem gosto muito. Ambos sofreram ou estão a sofrer perdas irremediáveis. Um tem o pai em coma há meses, estado em que ficou após uma cirurgia ao coração, de mera rotina. Depois de meses em estado vegetativo, onde se discutia já o direito que se tinha em manter esta situação artificial, o senhor acordou e tem recuperado lentamente. Tenho acompanhado o sofrimento dele dia a dia, o horror de se ver sem pai, a pena de ter de lidar com isso, de suster o pesar de toda a família, o medo de ter esperança, a vergonha de o pensar já morto, o terror de todas as mazelas que isto poderá trazer a todos, o adiar a sua própria vida. Ainda hoje, ele saíu de manhã, lavado em lágrimas, porque o pai havia passado o fim-de-semana a chorar e ele queria estar próximo dele.
O outro, um dia recebeu uma chamada. O pai tinha entrado em colapso, e morreu sem sequer perceber, sem ter tempo de pedir ajuda. E ele sofreu sozinho, negou-se a ficar caído, enfrentou e foi o apoio de todos, com as suas palhaçadas, como me contou. Sei que continua a sofrer a saudade irreversível, mas sorri com isso. E procura recordar o melhor do seu pai, com o melhor que tem para dar.

A tranquilidade deixa-nos receber o melhor de nós. A saudade não tem de ser um mau sentimento!

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