sexta-feira, fevereiro 17, 2006

Euforia

Vestiu-se de manhã cedo, muito cedo até, com outra intenção. A de se sentir bem consigo. Olhou-se ao espelho num instante, entre um esgar de olhar nas crianças e outro no som definitivo do microndas, e quase se achou bonita. Esboçou um sorriso e tentou guardar essa ideia de si e reservá-la para levantar o olhar que há muito tinha baixado. O dia tinha tudo de igual aos outros, não fosse este pequeno sentimento de euforia que se apossava de si. Revia as imagens que o agente de viagens lhe tinha passado e sentia-se já a pisar as areias finas e brancas. O poder dessa ideia encheu-lhe novamente o peito de ar, e esboçou um outro sorriso, desta vez mais rasgado, quase saliente. Sentiu os braços doridos do peso que carregava, o filho, os sacos, a mão da M. e ao sentar-se no carro, encostou-se e previu o dia cheio que iria ter. As vésperas das mini-férias nem sempre são fáceis. Queria deixar tudo preparado para que o telefone não tocasse por tudo e por nada. Mas, e mais uma vez sorriu. O cansaço matinal, o peso do corpo, desta vez parecia apenas físico. Lá dentro, o ar circulava. E deu consigo a cantarolar a canção que passava na rádio. O dia foi passando e ela só deu por falta da angústia quando se recusou a voltar cedo para casa. Precisou de procurar alguém para estar, para conversar, dividir a atenção do M. e da M. E voltou para casa, novamente a cantarolar e a achar piada à playlist daquela hora. A euforia do dia agora parecia repousar numa certa paz. Algo de que já tinha saudades.

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