quinta-feira, março 02, 2006

O medo

Deu consigo a pensar no medo que tem em um dia voltar a interessar-se por alguém. Fez de conta que não sentia pavor, mas não conseguiu controlar o frio que lhe passou na espinha. Percebeu que uma das coisas que tinha ficado era uma espécie de cepticismo em relação às pessoas em geral e à entrega que são capazes de fazer. Não duvidava que se iria voltar a apaixonar, se calhar até várias vezes, se calhar até já estava apaixonada... mas tinha dúvidas que se conseguisse voltar a entregar sem reservas, sem limites, sem uma capa que a cobrisse e a protegesse. Quis lutar contra isso. Quis pensar que quando acontece apaixonarmo-nos não pensamos muito nas consequências, no futuro, em nós. Quis pensar que lá fora ainda existe alguém com a combinação certa para abrir a porta agora blindada. E voltou a fechar os olhos, quase num desejo de imortalizar esse desejo. Sabia que agora estava melhor do que estava antes. Mesmo sozinha seria capaz de ser mais feliz, mais ela. Deixaria de se anular, deixaria de se sentir rejeitada e mal amada. Preferia estar consigo do que com alguém que preferia não estar com ela. Preferia a solidão a uma companhia feita de farsa. E nesse momento agradeceu a quem lhe virou as costas.

1 comentário:

dadefuga disse...

"Nada é por acaso". Custa-me sempre um pouquito este pensamento, mas de facto o tempo tem-me provado que acaba por ser assim. À distância do tempo, que vai correndo sem parar, tudo ganho um sentido, que muitas vezes é completamente diferente do que sentimos em alturas de turmento. Aí as cenas ganham um sentido, e consigo dizer, "nada é por acaso". Sê feliz!